segunda-feira, 14 de janeiro de 2013


Memórias de um jovem senhor

          O senhor Maximiliano estava sentado no seu velho sofá e seus mais de trinta anos!... três décadas aturando o peso daquele cidadão que agora ostentava seus noventa e cinco anos de idade!... “Quase um século, meu Deus! quanta vida, ocorrências positivas e negativas, muitas experiências e, no momento, nenhuma empolgação de minha juventude!” concluiu no seu interior cerebral. Verdadeiramente não são apenas as células que morrem, mas sim toda uma energia... o tempo mata e torna vivo o supérfluo, muda os prazeres cotidianos, faz do jovem um velho...
          Armando os olhos para se direcionarem aos seus objetos adquiridos pelo seu excesso de força de trabalho (jamais ganhou dinheiro sem suar em demasia!), Maximiliano deixou de lado o seu sofá e observou aquela velha televisão... “Por que gastei o meu santo dinheiro com essa caixa incapaz de me entreter?!” indagou-se com o sue velho ar seco. Na verdade, ele era o resultado de uma criação social que visava apenas a sensatez do realismo: trabalho por Deus, pela família e, destarte, por sua própria honra. A televisão era um cubo frio de fotografias móveis que ele observou após já ter quase dois terços de sua vida! e isso vale também para a eletricidade. Olhou para a porta fechada de seu banheiro e agradeceu por estar lá dentro um detalhe prazeroso: “Quantos banhos frios tomei em tantos invernos!” chegou a se tremer apenas com aquele tipo de recordação. “Enfim uma boa tecnologia!...”
          Após o sofá, a televisão e o chuveiro elétrico, Maximiliano observou aquela egrégia senhora que o ajudou em suas conquistas materiais e pessoais: a senhora Antonieta caminhava de forma vacilante, com os seus óculos (estes nem grandes e nem pequenos!), sua altura média para uma mulher comum e o seu ar de simpatia que guardou durante sua vida inteira (a paciência, é bom lembrar, foi uma virtude que adquiriu de forma tardia). Para o senhor Maximiliano, era como se ela jamais tivesse mudado: era a mesma jovem com os seus longos cabelos encaracolados e loiros, o mesmo orgulho e ambições pueris, a mesma chantagem, doçura, beleza e o mesmo modo suave e aprazível de ser!... “Fiquei com todas as marcas do tempo!... e isso é bom, é maravilhoso ser companheiro de uma eterna jovem!” anos mais tarde, Antonieta viria a falecer por causas naturais e Maximiliano não agüentou nem dois meses de solidão... mas retornemos à nossa história:
          Na parte superior da estante da sala (que continha inclusive a televisão), a foto daquele jovem inconsequente: “A vida inteira sendo um hipócrita que era santo em casa e o próprio demônio da porta para fora!” afirmou e, após, fixou o seu olhar para a sua esposa: “Quantas lágrimas caíram dos olhos de minha amada por causa de um jovem sem cérebro! um cidadão que dirigia o seu carro ébrio, um vago a quem tive a desonra de chamar de filho!” segundos de amargura encobriram os sentimentos de Maximiliano. Difícil lhe era entender como aquela criança recém-nascida que sorria para todos e apontava para o céu admirado a observar aviões se tornou um adolescente que agia apenas por impulsos de selvageria e egocentrismo. Não queria se lembrar da peroração vital de seu próprio filho, fazia questão de ignorar a imagem funesta para sempre se recordar daquela criança loira cheia de energia... como era duro aceitar não ter filhos vivos e, principalmente, netos!
          Mas, fora as memórias de seu primogênito e ex-único herdeiro, a vida era uma dança agradável que superava partes desarmônicas da Sinfonia Universal!... aquele lar e aquelas lembranças eram mais do que um nada: eram verdadeiras efemérides triviais.

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