segunda-feira, 14 de janeiro de 2013


A biografia

          Acordar, passar o período das imagens dos sonhos!... perceber-se limitado no universo do “real”. Acontece que a ordem se inverteu com o personagem deste conto, e esta narrativa (por que não?!...) fantástica me aparece como oportuna para a atual ocasião. Nem distante de sua efeméride inicial, menos ainda perto de tal paralelo; Bernardo estava na suposta “meia idade”. E houve o dia em que o seu sono foi temporário, mas o seu despertar!... de súbito, um detalhe foi demasiado marcante para ser ignorado: em suas mãos e seus braços, insetos de todas as espécies (ou eram, no mínimo, a maioria da biodiversidade suprema de nosso planeta...) cobriam a epiderme de nosso personagem. Era incrível a questão do espaço, pois era uma imensidão de vidas minúsculas em um pequeno pedaço de carne humana... mas a sensação era de um princípio jamais sentido anteriormente: era uma libertação física, uma limpeza da alma com seres como formigas e baratas (!...). Acomodado com o ocorrido nada previsível, o homem apenas permaneceu imóvel durante alguns minutos; até que os insetos saíram de cima de sua pele, se uniram em uma nuvem que se distanciou e se acabou com a chuva efêmera... Bernardo tentou se aproximar da poça de água que se formou, mas quando chegou no solo em questão o líquido não mais se fazia presente!...
          E o nosso personagem ficou inerte, com a companhia única da perplexidade; pensou em respostas, mas todas eram vazias: não era um sonho, pois foi a extensão do porvir de um despertar inquestionável; e não era verdadeiramente a morte, pois uma alma jamais conseguiria se afastar por completo das demais!... as hipóteses da ciência humana eram pequenas e inúteis para o contexto. Surgiu então um questionamento: “Como posso arquitetar teorias internas sem qualquer outra presença humana ao meu redor?!” Bernardo tentou achar respostas, mas nenhuma lhe veio à mente... teve que aceitar que até o seu espírito individualista e misantropo era resultado de um conjunto. Mas a sua vivência excêntrica não encontrou sua peroração diante da construção daquele ponto...
          E o que a atmosfera da dimensão, real e ilusória, trazia ao homem!... não existia ali qualquer peso de consciência (nem amargura e nem euforia desequilibrada!...), e o caminho oposto era um universo nulo de purgatório (sem progressões e sem regressões...). Bernardo não estava ali nem para aprender, nem para ensinar, construir ou destruir... era um frenesi, uma constância sem escala de itinerário. Estava apenas sentindo o seu heterônimo mais esclarecido, sem nenhuma crítica e/ou parcialidade. A escuridão neutra que o cercava se fez presente até a próxima exposição surgir de uma forte luz excêntrica;... uma sacada, sem andar para cima e nem para baixo, estava um cidadão inquieto; em seu recanto solitário, seu olhar fitava tudo o que lhe passava despercebido:
          - Mas, ele sou eu!?... – Bernardo fez o questionamento sem conseguir qualquer resposta contrária.
          Se formulou então um estudo, um autorreflexo sem hipocrisia e/ou catastrofismo; e percebeu que estava além do bem e do mal, era pequeno e um detalhe grandioso... corrompeu-se às grades da vaidade humana, Bernardo apenas analisava o seu Eu de Outrora. Mais nada existia ao seu redor, estava livre de necessidades biológicas e do orgulho. Uma forte ânsia de dar sinceras gargalhadas, a sua efígie nada mais era do que uma ironia confusa perante o desconhecido!... estava fixo e inabalável, diante de sua angústia exposta. Até que o ato de seu Eu fora de eixo se consistiu no ignorar um outro indivíduo que lhe trazia vulto e o pedido de ajuda. E assim o ciclo que permaneceu infindável se fez presente em seu espírito.

Nenhum comentário:

Postar um comentário