quarta-feira, 5 de novembro de 2014

                   Gostaria de compartilhar com o amigo(a) a minha nova conquista: o meu texto foi selecionado para participar do livro Carta ao Novo Presidente, da editora Bookess.

                         Segue abaixo a epístola selecionada. Deixo a ti o julgamento de se a escolha da editora foi sensata ou não.

                      Estou ainda vendendo o meu livro de contos, A MENINA E O GUARDA-CHUVA. Caso tenha interesse, podes entrar em contato comigo pelo e-mail rodrigopbernart@hotmail.com ou pelos telefones (51) 3481 3351 ou (51) 8427 1182.

                                                                       Atenciosamente,
                                                                   Rodrigo Pazini Bernart.
CARTA DE UM ESCRITOR INQUIETO

          Sr(a), Presidente, mais do que adentrar em um concurso para visualizar meu “potencial literário”, vejo esta epístola como uma oportunidade de colocar para fora minhas ideias, minhas expectativas e também a minha identidade (pois aqui, como em todos os lugares de minha vida e em todas as linhas de minha produção literária, me faço por transparência exposta). Nas próximas letras, não vou discutir credibilidade partidária ou verossimilhança democrática no nosso atual sistema político. E não me esforçarei a ter qualquer tipo de controle verbal literário ou diplomacia no modo de me comunicar. Pois sei que, antes do Presidente (ou de qualquer outro profissional brasileiro), se forma o cidadão. Então, esta epístola é uma mensagem de cidadão para cidadão.
          Durante o dia-a-dia da eleição, me deparei com candidatos apegados a discursos que já se fizeram ultrapassados por causa da repetição. Quem já não está cansado de ouvir que “a educação é a base de tudo”, “só poderemos vencer a fome com uma agricultura forte” ou “o Brasil precisa de uma reforma política”? Tais discursos, por serem pontos de entendimento para a nossa população, já caíram nos abusos dos usos dos demagogos que insistem em ludibriar o nosso povo. Então, não quero enviar-te perguntas prontas para respostas prontas, pelo contrário, gostaria de te fazer um apelo ao que pode existir de mais nobre em qualquer indivíduo de nossa espécie: o ser humano em sua essência mais humanitária. Porque, conforme se passam os governos, a economia e a ordem de manipulação política vigentes se colocam acima de qualquer ponto de vista que poderia sair da vivência de uma pessoa comum do povo. O dinheiro do povo é gasto e distribuído sem o mínimo de conhecimento do mesmo. Empresas decidem os seus caminhos sem pedir qualquer opinião de seus empregados. Sindicatos entram em acordo com empresários sem respeitar muitas opiniões que se fazem no cotidiano de muitos empregados. Governantes mandam materiais e livros didáticos a escolas sem que a opinião dos professores seja consultada. Acredito que a total isonomia, a aderência de todas as opiniões, seja utópica. Mas espero que você jamais se esqueça do fato: és usuário do maior cargo político do país por causa da decisão da maioria. Portanto, só o fato de estares onde está te coloca na obrigação de se esforçar para alcançar a pluralidade em seu nobre trabalho. E como poderíamos abordar um povo em sua máxima pluralidade? Acredito que a resposta mais plausível seria o melhor desenvolvimento da empatia, isto é, tentar ao máximo compreender as diferentes faces dos cidadãos comuns.
          Na nossa era, era do Mercado de Trabalho, uma palavra desprovida de nexo e utilidade social entra em voga e é uma das ferramentas de manipulação comportamental de nosso povo: competitividade. Me entristeço muito por ver que a ideia de competição ainda é uma constante nos formadores de opinião de nosso país. Me entristeço sim, pois sei que a competitividade é o oposto do que faz com que sejamos forças por uma força plural: integração. Por que não batalharmos para substituir a ideia de competitividade para a renovação da integração? Sei que, para chegar ao cargo de Presidente, você entrou em disputas de teor pessoal com outros candidatos. No mínimo, você já deve ter tido que responder acusações de ordem pessoal durante sua vida pública, e isso é deveras deplorável. Deixo aqui uma dúvida no ar: não seria a reforma pessoal de ordem moral mais importante para a nossa sociedade do que outra mudança de ordem ideológica, econômica ou partidária?
          Ademais, para continuar com esse nosso diálogo, vejo que só tenho uma pessoa a quem apresentar-te: eu mesmo. Sei que tal afirmação tem um caráter, no mínimo, egocêntrico, mas que outra realidade poderia eu conhecer melhor além da minha? Pois bem, aproveito para apresentar-me acima de nome, identidade ou qualquer outro rótulo de teor socioeconômico que poderiam usar para ser minha indumentária.
          Sou do sul do Brasil, não conheci a seca nem a criminalidade em sua forma mais abrupta (e quero que esses, mais as problemáticas da saúde e da educação, sejam sim partes de sua prioridade de governo!), estudei em escola pública e hoje sou um escritor que trabalha em escolas e tem por sonho o reconhecimento artístico que nos é tão caro aqui em nosso país. Falarei de minha infância e minha adolescência, pois atualmente me encontro no início de minha vida adulta. Minha infância foi tranquila e minha adolescência foi turbulenta, pois tal fase me envolveu em fortes questionamentos existenciais que hoje transfiro para minha publicação literária. Não vislumbro certa estabilidade de vida, pois gosto da ideia de que posso mudar e acredito que a mudança também pode ser social. Filho único durante a infância de uma família de classe média, não cheguei a conhecer a sensação biológica de viver com faltas materiais ou excessos. O meu processo educacional me mostra que sou, sim, um privilegiado. Mas um momento de minha meninice (...) me parece adequado para a continuação desse nosso diálogo.
          Durante de um momento em que me fiz simplório mimado, em que sempre cobrava mais e mais recursos materiais de meus progenitores e não fazia questionamentos para além de minhas cobranças, meus pais me levaram até um canto da cidade que me era desconhecido até então. Para mim, foi o início de uma epifania que me marca até hoje. Não me desenvolverei aqui em detalhes que me parecem inúteis, mas irei direto ao fato do que aconteceu na ocasião: pela primeira vez em minha existência me deparei com a miséria e a falta de dignidade humana. Coisa simples, mas que não deveria (ao menos em meu entendimento) existir em pleno século XXI. Desde então, dois hábitos começaram a fazer parte de minha caminhada no mundo: agradeço sempre a Deus (não perco um dia tal oportunidade!) por tudo o que tenho e tudo o que Ele me permitiu ser e, dentro de meus limites, sempre alcanço um pouco de comida ou outro auxílio que outrem possa querer de mim (às vezes, tudo o que as pessoas querem é que saibamos escutá-las!).
          Desde já, torço para que o seu desenvolvimento na presidência do país seja humanitária e que você possa sempre auxiliar principalmente os nossos conterrâneos que não tiveram nem a oportunidade de serem tratados como verdadeiros cidadãos. Desejo que sempre esteja bem, que encontre sua paz e a sua felicidade e a leve para dentro de seu lar! E me despeço fazendo um último apelo: sou um homem comum, cujo nome poderá te ser desconhecido, mas não vire os olhos para o outro lado quando estivermos caminhando pela rua!

                                                                                     Atenciosamente,

                                                                                  Um Excêntrico Escritor.