segunda-feira, 14 de janeiro de 2013


Duas vias de uma mesma estrada

          Silêncio na sala de aula, o jovem Gustavo copia um excesso do conteúdo por ter incomodado demais o professor... e ele não é exceção: toda a turma está no mesmo barco (não sei se é uma analogia muito boa essa, mas enfim...). O garoto observa para onde estão os seus colegas, e todos estão quietos a copiar o trabalho do professor; observa o professor finalizar o extenso texto do quadro, dar alguma lição de moral nos seus alunos e se sentar na mesa com uma face que ilustra a verdadeira autoridade.
          Gustavo copia tudo, mas não lhe restava nenhuma vontade de responder aos exercícios... o seu olhar se perde na rua: está lá um pássaro entregue à sua liberdade, descansando por tê-la em demasia... o animal entregue ao desejo que os homens sempre tiveram, mas que se tornou utópico quando a humanidade começou a se ignorar diante do espelho. O olhar do jovem se volta novamente ao professor, e de súbito um grande susto: o olhar sério de seu mestre para a sua digressão visual. E a voz do adulto surge como um oceano que cai em uma pequena fogueira:
          - Não vai responder as questões, Gustavo?!...
          E o garoto apenas baixa a sua cabeça e se contenta em resolver os problemas. Mas a sua vontade era maior!... esperou mais um pouco e deu uma olhada rápida para fora da sala: o pássaro não estava mais lá. Uma revolta interna tomou conta de seu ser: tudo o que ele queria era ter visto melhor o pequeno animal!... e nem disso o professor “insensível” se deu conta.
          Mais alguns minutos se passaram, e Gustavo se esqueceu totalmente de sua “revolta”. Pois a mente infantil é um processo imediatista que só se apega a algo e/ou pessoa que lhe surpreenda no campo educacional (de forma “positiva e/ou “negativa).
          O jovem respondia as questões do quadro em seu caderno, aquilo realmente parecia não ter fim... e então um som esperado por todos: o alarme da escola decretou o introito do intervalo. O professor se dirigiu à sala de seus colegas de profissão e lá se entregou à dicotomia modal de sempre: dava risadas diante das conversas de seus semelhantes e acrescentava ao diálogo suas análises irônicas (e, antes que eu me esqueça, também estava no diálogo a decepção e a revolta dos professores para com os alunos bagunceiros; e os elogios aos poucos que se comportavam bem); mas a mente do nosso mestre sempre era uma mistura indigesta da falta da energia que os seus alunos lhe tiravam em aula e os problemas que acumulava do mundo externo (afinal era um indivíduo humano como qualquer outro de nossa sociedade e nosso tempo). No meio de todo o enredo daquela sala de “educadores”, surge a coordenadora pedagógica: o seu sorriso estampado na face, de orelha a orelha, uma pequena piada diplomática e uma mensagem positiva para “alegrar” o dia dos docentes... e o nosso professor nunca sabia o que deveria pensar diante daquela personagem.
          O jovem Gustavo se sentia em liberdade: corria, jogava bola, incomodava os seus colegas e era repreendido por algum adulto,... o tempo não existia nos instantes de sua excitação. São poucas as palavras para explicar um garoto sentindo-se em um universo ilimitado (ainda que tal sentimento seja temporário)... e deixo minhas sinceras desculpas a quem acompanha estas linhas de agora, pois sei que expliquei pouco sobre o personagem menor; mas é assim a vida de uma criança saudável: uma expansão infinita de aventura diante de um paralelo mínimo.
          O tempo passou com uma velocidade inconsciente e decretou, através do som do alarme da escola o final do intervalo: o professor respirou fundo e foi até a sala com a sua mentalidade fixa nos próximos instantes que viriam (não poderia, em nome da honra profissional e pessoal, facilitar as coisas para os seus alunos); e Gustavo não conseguia pensar em nada além da chatice da sala de aula quando retornou à mesma. “Por que não me deram mais tempo de recreio?!” pensou o docente e também o seu aprendiz.
           O professor parou à porta da sala e fez um sinal para que seus alunos adentrassem novamente naquele recinto, sua face séria foi um estratagema proposital com o único objetivo de gerar temor e reflexão em seus alunos (e isso deu muito certo!). Mais alguns conteúdos foram escritos no quadro, o silêncio era algo quase doentio... e o mestre sentou-se na classe e observou os seus alunos (que a essa altura apenas copiavam!): “Não adianta, eles me incomodam sempre; mas, mesmo assim, sempre me preocupo com eles!...” pensou em sua dicotomia (sua face de aço e seu coração de vidro).
           Gustavo fazia os exercícios, somente o medo de mais uma repreensão o dominava...
           Os segundos passaram devagar diante daquele ambiente tenso... e enfim: o alarme da escola decretou o final das atividades do dia. Gustavo, assim como todos os seus colegas, foi embora e não pensou em mais nada... e o professor saiu da escola com sua postura inabalável, mas o seu interior possuído pela triste confusão: “O que devo fazer para conquistar essa gurizada?!”

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