quarta-feira, 22 de maio de 2013


Ter e poder

Pecado original
De minha alma surgiu
E prevaleceu aos santos
E é o corolário
Dos passos da sociedade
E dos restos carnais
De homens ilustres

Pecado é morte!
Sei de tal hipótese
Mas sei que de ti
E para o teu ser
Nenhuma de minhas atitudes
Pode desaparecer dele!

Sei meus ensinamentos
E meus dogmas malditos
Desta espécie suja
Mas sei que teu corpo
Escurece a verdade cristã
E torna-se escândalo
Diante de moralismo sujo.



Noite de insônia

Noite de insônia
Em que durmo acordado
E penso na realeza
Dos que dormem
Nesta vila agreste

Noite de insônia
Em que tal intempérie
Fulgura do varonil pesadelo
E as almas se encontram
No passado de minhas ilusões

Esta é mais uma noite
Em que durmo triste
Por não ter esperança
E ela não estar do meu lado!...



Sonhos que se acabam...

Despertei repentinamente
Para todas as desilusões do mundo
Pude perceber incógnitas
Mas jamais resolverei os problemas de outrem
Pois nem os meus sou digno de decifrar

Minha situação vital
(Eterno estratagema sem norte)
Se consiste apenas na omissão
E eu não tenho erros para consertar
E também não tenho conquistas
Pois este é o meu câncer:
Existir sem ser, fazer sem agir...

Grande ironia vulgar
Desta maldita história
Que acabei por criar e ocultar!...
As passagens temporais de décadas
Não me são superior
Aos últimos fetos que morreram
Antes da probabilidade de existir.



Poema humanitário, solitário e triste

Se um suspiro de liberdade
Basta para felicitá-la eventualmente
De brandos calados
Todas as vozes da escravidão
Que se apodera de mim
Em constantes progressões funestas
De uma ação isolada
Poderei fazer amor com a humanidade inteira

Meus versos, constantes mudanças
De frases, palavras, organização
São apenas uma vil repetição trivial
De tudo o que sinto e faço ou não
De todas as idiossincrasias que existem em mim...
Até as que desconheço totalmente.



Eu como necessidade desnecessária

Um dia os artigos científicos
Como presenças preliminares
Se acabarão como algo efêmero
Nesta nódoa que se expande
Como um câncer frio e desnecessário

E quando as ferramentas sumirem
Com todas as teorias pragmáticas
Não mais restará outro agir
Para a minha alma demasiado aflita
Neste campo de concentração em que vivo eternamente...

Diante de corolários palpáveis
Minha voz nunca será esclarecida
Ao nível de ser compreensível
Qualquer oratória de idiossincrasias
Pensamentos e ações de tudo o que me domina
E me transforma em herói
E me transforma em vilão

Meu princípio aflitivo
Análogo à esperança que me faz sorrir:
Nada do que sinto é semelhante ao imaginário de outrem.



Corrida nuclear supérflua

Vultos, fantasmas, imagens vivas
Capturam os meus pensamentos
Adentram em meus sonhos
Como provas vivas e divinas
Cartazes do grande espetáculo existencial
Vidas que posso viver
Corolários demasiado próximos a mim
Hipóteses que são inimigas minhas

Pois observo tudo o que me cerca
E sei que tudo está certo
Maravilhosas histórias de amor se aproximam
O meu melhor amigo é o Universo
Meu pior inimigo sou eu mesmo...

Vejo que não escrevo mais como outrora
Porque agora sinto vontade de viver...
E não sei se isto de fato é bom

Parece lógica a necessidade de vida
Para um indivíduo análogo no físico carnal
De qualquer humano existente
Sou um grande diplomata ao escrever
No introito das cerimônias modais
E fico mudo diante do meu final.



Crise, guerra e pergaminhos...

Retorno ao meu lar
Após outras “grandes festas glorificantes”...
E o tempo ainda é demasiado largo!...
O grande vazio de meus significados existenciais
(Este eterno paradoxo que me atormenta
Mesmo sem ter qualquer tipo de personificação...)
Ainda continuará a dormir em minha cama!...
Perdido na eterna distância de meus desejos
Neste campo desarmônico em que deposito minhas últimas composições
Apenas faço pedidos impossíveis ao vento
Ao deserto que me afasta de todos
(Até de mim mesmo!...)
E vejo que nenhum suspiro me livrará de minhas praxes indeléveis.



Mais um mandamento

Ela foi embora, o ignorou totalmente
Ele escuta suas músicas
Observa os seus velhos livros
Dispersos na bagunça de sua estante
E não para de recordá-la
Sente uma saudade excêntrica
Perante sua solidão possível por causa dela
No mundo inteiro não existe em quem mais pensar
Seu amor a deixou partir
Afinal, um sentimento sincero jamais se torna adversário da liberdade
E ele morrerá com tais angústias e alegrias
Pois um sentimento puro jamais se apaga.



Oração

Que eu aprenda a observar as virtudes de cada indivíduo
Que, antes de adentrar em qualquer tipo de relacionamento,
Eu me prepare para os meus deveres
E me valorize acima de qualquer egocentrismo
Porque só assim estarei preparado para me comunicar com outrem
Escutando ao máximo, falando apenas o necessário

Que eu consiga me livrar do ódio,
Do fanatismo e qualquer outro desgaste espiritual
Porque todas as minhas falhas são filhas de minha incompreensão
Que eu consiga entender que devo ajudar
Para que minha paz seja encontrada
E que o significado da vida é não ter inimigos
Que me venha a humildade, verdadeira sapiência
Para que eu não mais esconda minha identidade

Pois só assim conseguirei viver.



Aviso aos que chegaram até aqui

O indivíduo que analisar minhas repetições
E, mesmo assim, continuar a ler os meus poemas
Das duas opções, se enquadrará em uma:
Ou é alguém que ignora qualquer beleza e estrutura literária
Ou se trata de um cidadão que verdadeiramente sofre
Sente minhas alegrias e minhas frustrações...
Ignoro totalmente os que se encontram no primeiro caso
Mas me sinto satisfeito se alguém pertencer ao último
Porque assim o universo estará provando que não sou louco
E sim o fato de a humanidade precisar de tratamento urgente.



Rodrigo Pazini Bernart

Sou um indivíduo fora de meu tempo
Não sou antigo e nem futurista
Porque não são a minha ideia em meu corpo
E o meu pertencer ao presente
Agentes de minha repartição, desgaste sem projeções
Ou análises verdadeiras ou falsas
Mas sim o meu espírito aflito
Órfão de significados, nascente de um rio desconhecido
Que me traz um eterno descontentamento
Para com os universos posteriores
E diante de todos os meus atos
Que, não só me trouxeram aqui,
Elaboraram um vazio insaciável
De minha mente, meu câncer e o ponto final
Este paralelo que nunca chega.



Pare, escute e... fale!

Dançar através de versos me é tão simples
Que acaba por me amedrontar diante de dois extremos:
Um é a falta de biografia perante belezas impostas
(Falo com exclusividade sobre as minhas...)
E o outro é à velha questão da utilidade...
Será que existe algum acréscimo
(Pessoal e/ou social)
Nestes meus rabiscos desequilibrados?

Hoje é um dia igual aos demais
E esta verdade me é um monstro indomável
Porque ela ainda me apresenta como escravo das dúvidas
A literatura é o primeiro foco de minha vida
Nada me vale mais do que esses fenômenos
Alguns poderiam me dar total razão
Outros poderiam descrever minhas aflições através de tal convicção
(E não estariam completamente enganados...)
Mas ninguém conseguirá calcular o que em mim reside

A vida é um martírio sem recompensa
Não desejo esta amarga cruz a ninguém
(Nem aos santos e nem aos piores criminosos)
O amor e sua eterna distância
É, antes, um demônio indomável e incalculável
Sangue podre é este que cai e se prolifera em mim
Aquece o que jamais deixou de ser frio

Meu espírito está se esgotando
Decomposição que já iniciou sua contagem
Antigo sintoma que em meu corpo regressa!...
Não faz qualquer diferença o sentido de agora
A sinfonia já não é equalizada
O equilíbrio não mais é possível
As mentiras que sempre criei estão a cicatrizar
Cada destino, cada heterônimo, cada visualização...
Não sou plausível, pois não existe o além zero de meu certame.



Alfabeto invertido

O ato de se iniciar, desenvolver e finalizar
É apenas um contexto, convenção
Harmonia para todos por ser previsível
O tradicionalismo é uma fuga
A liberdade é o maior demônio dos mortais
Ela nos suja com a inconveniente responsabilidade
Princípio que ninguém pretende seguir

E como encerrarei uma ironia?
Pois bem: “Era uma vez um poeta...”



Adaptação de um velho tema

Estranha é a espécie humana
A população se aglomera, o indivíduo fica solitário
O estratagema social fez do sono algo sublime
Único paralelo que ainda pode nos trazer paz
Mas que se atormenta com imagens exteriores

A confusão, filha da ausência do verossímil,
Está nos subúrbios de meu inconsciente
Como em algum esconderijo não mais secreto
À vontade de estar além desta irracionalidade
Quero ser superior à burocracia que me cerca!...

Ontem eu conseguia mover os músculos de meu corpo

Viver, sem sentir a vida!,
Tudo está muito distante...
Não sei se cheguei a perder o foco de meu certame
Às vezes, sinto que nunca cheguei a tê-lo
Com certa estranheza me lembro que tenho sangue
Simples, mas o trivial também é complexo...

Meu poema de agora é um resto
Algo que não deverá ser utilizado
Sempre penso no retorno de minha (in)felicidade...
Aqui, não sou e não tenho nada
As palavras se anulam neste interior de justiça universal.



Dúvida eterna

As noites são todas iguais
A velha coruja descansa em sua observação
Sangue é a cor do escuro e frio
Sinestesia é esta minha loucura
Mar de gelo, ausência de minha esperança!...

Meu foco se torna mínimo
Sonho com um futuro melhor
Meu inconsciente é o registro glorioso
Paralelo significativo, abstrações
De um desejo, ânsia insaciável
Pretendo alcançar o necessário
Que não é mais do que a utopia de meu tempo

Hoje, assassinos são heróis
Primatas inferiores são aclamados como gênios
O medo de usar virtudes internas
Projeto pseudointelectual que transforma-se em cópia barata
Faz do rico um guardador de sua fortuna
E do homem um mistério cada vez mais distante...
Escrevo por escrever, passar o tempo
Chegar próximo à morte
Esquecer o que fui e sou
Quebrar as grades desta cela
Sou um simplório prisioneiro
Desconheço-me neste lodo de cansaço e desinteresse

Guerreiro de uma guerra sem disputa
Herdeiro da vergonha de meu íntimo
Contento-me em ser a preparação do caminho
(Nem isso sei se deveras sou!...)
Sei que não sou princípio e nem fim de nada
Já se foi o tempo em que pensei ser qualquer coisa...
Mas deve existir, se escrevo, alguma utilidade nestas linhas

Desconheço o berço destas minhas análises excêntricas
E o princípio, ou seriam princípios?!,
Que me faz abraçar-me com uma convicção doentia
Sinto-me eterno merecedor da solidão
Amante fria e indiferente que se apodera de meu ser
Minha respiração é angústia sufocada
Hinos grandiosos saem de meus desabafos
Feios e tortos, com formas no mínimo duvidosas

Guardo as dúvidas com uma diligência inexplicável
Pelo bem ou pelo mal, cada vez maior é minha produção
Este câncer de meu ser é a exposição de agora
Não existem outros paralelos além desta vitrine...
Escrevo,... e nem sei se isto é deveras positivo.



Sensibilidade (II)

Escutei um som diferente que veio do exterior
Uma harmonia, delicada sinfonia
Hinos em louvor da paz silenciosa de pequenos atos
Confirmação de que os brados negativismos são destruições
Uma dualidade entre o superficial e o verdadeiro
As estradas diversificadas e a pueril individualidade
A chama de uma revolução que se expandirá
Um congresso de anjos, lereias de homens

Escutei o sofrimento, caminhada milenar
A sensação que supera as reais condições
Um abismo escondido dentro de mim!...
Pensei nos discursos, lembretes esquecidos
Na miserável condição de um ser inquieto
Amaldiçoado por sua própria mentalidade
Entregue a uma selva superior à sua própria essência

Escutei na vida o eterno aprendizado
Instituição mais eloquente do que qualquer política
Obrigações verdadeiras, indiferentes à nossa porca sociologia
Correspondências firmes, pedidos por um local mais humano
Intrigas derrotistas que ainda permanecem...
E um simplório poema não chega a ser indispensável
Mas é nulo, pois o demônio interno parece não ter cura
E tudo é mundo, apenas fuga
A biologia vence e devasta partes do campo criativo
A genética espiritual é esquecida
A ilusão consome a vibração de meus ossos.



Silêncio de um manicômio interno

Retornar ao princípio é sempre difícil
Rever faces que não se deseja
Ter que enfrentar o mundo inteiro
E, ao mesmo tempo, perder a própria armadura!...
Em mim, o futuro é o pior dos espectros
A agonia é a minha personificação completa.



Sentimentos...

Um ventilador que gira sem o vento
No quarto, diante da fria solidão,
Apenas o mancebo e uma corda frágil
A ideia se torna minha pior inimiga
(Me torna inferior, me faz distante de qualquer hipótese!...)
Estou morto, e nada me aparece como sensato
Acima de qualquer racionalidade financeira
Estar ou não estar diante de outrem
E ter ou não ter uma história!...
Corolário vazio, eis então a vida
As ferramentas dispostas para uma peroração sem dignidade.



Prosopopeia

No meio da rua, com o peito aberto para o mundo
Pois as ilusões estão nas instituições
E o poeta não é ser de se esconder em qualquer ilusão
A poesia é a sua pátria maior
As leis que obedece são apenas as do universo

Introito interessante, fixo e imutável
As letras são mais do que letras
Os versos são mais do que versos
Em uma arquitetura excêntrica
Que conecta velhos simbolismos modais
E pensamentos inovadores da ânsia que surge do caos
Eis, então, um resultado imprevisível!...

Reclusão de um indivíduo que nunca está sozinho
Sinestesia que consome o meu oxigênio
Meu alimento, uma chuva suave que limpa a minha alma!...
Me perco nesta loucura proposital
Sinto-me altivo, forte diante de um recanto pessoal

Terminei mais um poema?!...
Não, na realidade eu apenas me reinventei.

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